sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

UM MODELO DE TREINAMENTO TEOLÓGICO MINISTERIAL PARA O SÉCULO XXI



“Quando acabou de instruir seus doze discípulos, Jesus saiu para ensinar e pregar nas cidades da Galiléia” Mateus:11:1


            O mundo contemporâneo é um mundo em transição, globalizado e que vive a crise de saber para onde caminha. Não há rumos para construir um mundo melhor e há desconfiança nas instituições tradicionais. O povo não confia mais naqueles que representam estas instituições. É uma crise de integridade, de  caráter, de solidariedade. Nesse contexto, discuti-se o quanto a educação teológica tem sofrido o impacto da economia mundial e de sua crise. Pergunta-se da validade ou não da chancela do MEC para os cursos teológicos.
            A igreja cristã sofre o impacto dos acontecimentos nacionais e mundiais. Ela tem uma mensagem de “boas novas”, mas fica enclausurada e seus  discursos dominicais não provocam mudanças na sociedade. É necessária uma ação eficiente e eficaz não somente para hoje, mas para a preservação da fé cristã no futuro dos nossos filhos e daqueles que herdarão a mensagem.
            É necessário voltar a ler com afinco o “treinamento de Jesus” oferecido aos seus seguidores. Assim, como leitores do século XXI, podemos extrair  diretrizes desse treinamento e preparar  pastores, ministros, líderes e cristãos que vivenciem a fé cristã num mundo em transição. Essa é a proposta desta breve reflexão, tendo como base as instruções que Jesus deu aos seus para serem ministros do Senhor. Temos aqui então, algumas diretrizes para um treinamento teológico ministerial:


1.    Servir, é o modelo 9:35- 38
Todo cristão sabe e reconhece que o modelo de vida do cristão é o próprio Senhor Jesus. As instituições de ensino devem pensar o mesmo. As igrejas devem seguir este modelo do serviço. A razão de existirem tantas instituições sociais aponta que é possível servir. Não desejo questionar as motivações que levam estas instituições a servirem ao próximo, mas elas estão servindo. Isso é importante e valioso. Por que, então, as igrejas não servem com maior intensidade ao próximo? Por que limitamos nossa fé aos contornos do pensar correto, mas não de um  agir correto e no serviço ao mundo sem o interesse de acrescentar pessoas às nossas estatísticas? O nosso alvo é servir. Onde está nosso modelo? O texto de Mateus: 9:35-36 é específico em mostrar como o Senhor Jesus cumpria e desenvolvia a sua missão:
·        De forma peregrina, pois ele “percorria, todas as cidades e aldeias”.  É o desapego da segurança;
·        O fazer da sua missão era ensinar, pregar, servir e curar (aliviando a dor). Estamos aliviando ou estressando o povo?
·        A motivação de Jesus estava em seus sentimentos, pois o texto diz que “...vendo ele as multidões, compadeceu-se delas...” Jesus era apaixonado pela vida do seu povo sofredor;
·        Jesus focava nas necessidades “...porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não tem pastor”;
       
2.    Transmitir autoridade escolhendo os alunos 10:2-4

            Citar os nomes não é uma mera identificação. Eles são indicados como eleitos, caminharam juntos e foram aprovados. O ensino peripatético de Jesus qualificou e aprovou na prática estes alunos. Jesus “chamou” e “deu autoridade”. A transferência não era somente de conhecimento, supervisão, mas de autoridade. O treinamento gerava representantes. Esta escolha tinha objetivos claros e definidos. Na prática, Jesus vislumbrava o tipo de aluno que resultaria de seu mentoriamento. Na linguagem contemporânea, o treinamento dado por Jesus foi um training personalizado. O objetivo era qualificar pessoas para a continuidade de seu ministério. Não era para manter um status quo ou ainda manter uma estrutura hierárquica e assim perpetuar algum tipo de instituição. O centro do treinamento era servir as pessoas.

3.    Focou as cidades, as pessoas e as necessidades 10:6-11
Jesus indicou claramente onde estavam as pessoas e o que deveria ser feito a estas. São “as ovelhas perdidas” que precisam da mensagem do Reino. São aqueles que nada têm, pois não sabem onde estão nem para onde vão. Eles estão perdidos e isso não é uma referência exclusivamente soteriológica e escatológica. Em todas as épocas o ser humano viveu a doença existencial que desnorteia a vida. As pessoas são importantes, não as estruturas, os impérios pessoais,ou os impérios denominacionais. Este é um grande desafio para a mentalidade pósmoderna.
O enfoque de Jesus é que estas pessoas precisam de cura. A mensagem e a ação do Reino são terapêuticas. Os súditos devem ser treinados para curarem doenças e diminuir o sofrimento do ser humano. Em outras palavras, o treinamento de Jesus foi além do preparo teológico e doutrinário feito através dos discursos.  O treinamento ministerial não deve ter como objetivo exclusivo a preservação da fé, a conquista de almas e, conseqüentemente, o crescimento numérico da comunidade cristã. Deve ir além do discurso, pois deve suprir as necessidades, oferecer a terapia do corpo, da emoção, da alma. É o evangelho de forma integral.
           
4.    Contra cultural (poder, tradição, justiça, família, poder político) 10: 17-39

            Numa rápida leitura do texto, observa-se que os alunos de Jesus foram enviados na contramão da sociedade daquele tempo e de todos os tempos. Destaco algumas frases e idéias do texto:
JESUS
 HOJE
“...dêem de graça”
O mercado rege a mensagem
“...Não levem nem ouro, nem prata” não levem roupas
Quanto vou ganhar? É a pergunta
Se não são aceitos declarem juízo
Adaptar a mensagem para manter o status
Perseguidos pelo poder político
Compactuar antes de perder os contatos

            A mensagem do Reino que estava sendo anunciada por Jesus e que foi entregue aos seus seguidores era incômoda. Mas, a quem incomodava a mensagem? Ao mesmo tempo em que incomodava alguns grupos sociais, esta mensagem trazia vida para outros.
Concluo pensando no fato de que o treinamento que os futuros líderes vocacionados ao ministério recebem deve ser revisto à luz da mensagem e treinamento do Senhor Jesus. O mundo externo também deve  direcionar o treinamento do cristão vocacionado para tão grande obra.  Os treinados no ministério devem usar as ferramentas que o mundo externo pode oferecer para alcançar pessoas e também criar uma agenda de serviço ministerial dentro de cada realidade: mundial, nacional, estadual, da cidade, do bairro, da comunidade. Treinamento ministerial deve estar pautado no modelo do Senhor Jesus.


domingo, 12 de julho de 2009

A ANGÚSTIA DO PÚLPITO

"Prega a palavra em todo tempo e fora de tempo". Este foi o desafio do velho pregador que aguardava a partida desta vida. Desafio que acompanhou a história da pregação e que centralizou o trabalho de muitos ministros da Palavra. Além de pregar, mantinham no seu lastro as marcas do cristianismo que nasceu em Jerusalém. Carregavam a responsabilidade do pregador nas diversas circunstâncias de vida. Nada era mais importante que comunicar a Palavra de Deus: era o centro de suas vidas. Eram comunicadores da Palavra Bíblica. Sentiam a angústia do pregador diante da responsabilidade de pregar o evangelho da graça; o qual era descoberto nas páginas bíblicas e comunicado a uma platéia que desejava saber se havia uma palavra do Senhor para aquele momento.

A construção da teologia cristã teve seu início pela Palavra pregada. Mais tarde estes pensamentos foram preservados através da escrita. Primeiro com grandes dificuldades, posteriormente com a invenção da imprensa o trabalho da preservação ficou facilitado. Graças a esta invenção pode-se aprender com estes anunciadores do evangelho, como vencer o desafio do velho pregador nas palavras endereçadas ao seu jovem discípulo, registradas nas epístolas pastorais que já foram supracitadas.

Este é o desafio de todo pregador. Todos aqueles que assumem o púlpito devem não somente entender o desafio, mas desenvolverem-se para vencê-lo. Não é aceitável ferir a história da teologia, da pregação, que foi fonte de altos temas de discussão nas academias e na vida do povo. Não se pode macular esta história com pregadores que não conheçam com profundidade as Escrituras, sua história, sua mensagem e o seu valor. Na atualidade as Escrituras foram valorizadas pelo comércio, mas são desvalorizadas por aqueles que dizem anunciar a sua mensagem. As Escrituras perderam o fascínio do sagrado para o anunciador de boas novas. Muitos entenderam que um curso superior na área, faria deles um pregador com condições ad eternum para expor a mensagem e ainda qualificá-la como bíblica. O curso não qualifica é tão somente um ponto de início para essa qualificação.

Hoje, precisam-se de pregadores que se exponham à critica de ter gastado tempo no desafio de entender o texto para melhor comunicá-lo. Comunicar é a palavra contemporânea que substitui o pregar. Comunicar não é somente manter o auditório acordado. O desafio do comunica-dor da Palavra, é mostrar que a mensagem que ele transmite é fruto do esforço e "da dor" que trouxe a pesquisa exaustiva e que o qualifica para assumir a plataforma ou um púlpito duma igreja. Quando isso não acontece, o púlpito agoniza. E este esforço não depende do tamanho ou do tipo de auditório. O desafio do comunicador da Palavra é responder as questões da vida, mas para isso ele precisa ter o profundo o conhecimento da palavra da vida, do criador da vida e da vida.

Qualquer um pode ser comunicador. Qualquer pessoa pode manter um auditório acordado, animado. Mas poucos são aqueles que conseguem ser comunicadores da Palavra.

Personificando, deduz-se que o púlpito está vivendo a sua angústia. Angústia de solidão. Angústia da velha Palavra, embora em novas roupagens, mas sendo a Palavra. Angústia, pois colocaram ali um comunicador, esquecendo-se, porém, do conteúdo. Sim, angústia por um comunica-dor da mensagem da Palavra de Deus, que foi gestada na dor da construção do estudo e exposta na dor do parto da comunicação.

Assim, o comunicador ou pregador da Palavra ao cumprir a sua missão histórica de vencer o antigo desafio do velho pregador, deixará o púlpito com uma angústia menor

Assim, eu escrevi - jotaeme

José Miguel [jotaeme] na primavera de 2008


sábado, 11 de julho de 2009

TEOLOGIA CRISTÃ A LENTE DO CRISTÃO PARA OLHAR O MUNDO

Fala-se de crise na educação do pais. Esta crise também chegou aos arraiais dos seminários, institutos e faculdades teológicas. Conseqüentemente chegou nas igrejas,, nos púlpitos e instituições eclesiásticas. Não há como negar esta realidade. É uma realidade que precisa mudar e esta mudança no vem de cima para baixo. A mudança vem do membro da igreja. Ele passa a questionar suas decisões. Analisa o mundo em que ele está inserido. É a lente da teologia cristã que passa a ser usada para analisar o mundo

Muitos pensam de maneira errada a respeito da teologia.. Alguns entendem que a teologia é perda de tempo. Que ela é árida e escraviza a fé ao raciocínio humano. Quem pensa assim não sabe o que é teologia e menos ainda, não sabe que esa opinião é uma expressão teológica. E mais ainda uma expressão teológica da sua fé. Assim quem rejeita a teologia carimba a sua fé como irracional, sem bases claras e objetivas. A bíblia mostra para o povo de Deus que precisamos estar "...sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês." (1a.Pedro:3:15). Destaco duas coisas, qualquer pessoa, isto é, culto ou indouto, cristão ou não cristão e outros. Também deve ser uma resposta que usou a razão. (Cf.Romanos:12:1-3) O que podemos ver muito hoje será então uma boa ou má teologia cristã. Aqui é que reside a questão principal. Conhece-se mais a má teologia cristã do que a boa teologia cristã. Há mais interesse em disser aquilo que é sentido (emoção) e não aquilo que pensamos (razão)

Quando nos conscientizamos da necessidade de uma boa teologia cristã vemos que o mundo poderá ser analisado do ponto de vista de Deus. Para isto descobriremos na Bíblia, fonte da teologia cristã, a analise que Deus faz dos fatos da vida. Porque quando pensamos em teologia cristã, entendemos que não é algo abstrato mas amplamente prático, pois é o estudo de Deus pessoal revelado na Bíblia. Necessariamente isso inclui tudo o que é revelado sobre Ele e as suas obras e as relações com as suas criaturas e criação. Assim é possível ver que toda ação que o cristão pratica existe por trás uma "teologia cristã". Há questão é saber se essa teologia, embora com o adjetivo de cristã, precisa ser avaliada como boa ou má teologia.

Quando entendemos que a teologia é extremamente pratica, cremos que ela desnuda o ser humano nas suas decisões. A teologia passa a direcionar as decisões da nossa vida: negócios, relacionamentos, compras, uso do poder, sexualidade, etc. A teologia analisa a origem das decisões; boa ou má teologia cristã. Ela legitima nossas normas culturais mais profundas utilizadas para avaliar nossas experiências e escolher o modo de agir. Dirige o nosso comportamento. Ela é o mapa da nossa vida diária. É ela que integra a nossa cultura. Ela organiza nossas idéias, nossos sentimentos e valores em único planejamento geral. A teologia cristã também monitora a necessidade de mudança cultural. Ela avalia o novo que chega o velho que abandona o nosso mundo. Todos nós fazemos isso mesmo nunca ter freqüentado um seminário teológico. O ser humano é um teólogo, resta saber, se há boa ou má teologia.

Por isso há necessidade de voltarmos ao estudo da teologia para poder decidir segundo Deus deseja que façamos. Se estudarmos a Palavra de Deus com afinco teremos uma boa teologia tendo uma prática que agrade a Deus. E a sua teologia é boa ou má?

A MENTE A SERVIÇO DE DEUS

Gosto de definir teologia de uma forma simples e até engraçada. Teologia é como o chefe de cozinha que prepara deliciosos pratos no seu trabalho. Como o chefe de cozinha, assim é o estudo teológico da bíblia: prepara deliciosa comida. O chefe pode conhecer e decorar diferentes receitas mas não alimenta ninguém. O leitor da bíblia poderá conhecer decor uma série de textos bíblicos, mas que não oferecem nenhuma contribuição para uma boa alimentação, já que não houve o ajuntamento correto dos diferentes ingredientes. Teologia se faz assim e é desta forma que o cristão satisfaz a sua fome de Deus.

Um grande erro do mundo moderno é apontar como verdadeiro e bom tudo aquilo que é prático. Isso se chama de pragmatismo. Este tem sido um câncer perigoso que atinge a igreja atual. Não é negado o valor da prática, aliás, um resultado prático e bom, é fruto de uma boa teoria, mas muitos têm se enveredado por um caminho perigoso, que é desprezar o uso da razão na sua vida cristã. Uma mente possuída pelo Espírito Santo de Deus é aquilo que é chamado a mente de Cristo. O movimento religioso da nova era se tem infiltrado sorrateiramente no meio da igreja cristã. Isto se chama "conformar-se com o mundo". Este movimento é mais um movimento que esta baseado nas sensações espirituais. Em outras palavras isto é mundanismo. A grande maioria dos cristãos liga mundanismo ao tipo de roupa, música, comportamento social, etc. e se esquecem que também o mundanismo entra na igreja através do estilo de vida que não deseja usar a mente para estudar e entender a palavra de Deus. Gostamos de experiência, mas não de estudos da experiência, pois se fazemos isto somos questionados na base da experiência.

Podemos ficar alegres quando olhamos a história cristã, pois os grandes homens de Deus, que escreveram grandes e volumosos tratados teológicos eram homens que viviam na presença de Deus. Eles entendiam que o evangelho de Jesus tinha duas primazias que não eram contraditórias, mas paradoxais, o que exigia do cristão uma resolução. Estas primazias são a primazia do intelecto e a primazia do coração. Assim, as emoções ficam acessas duma melhor forma quando conhecemos mais profundamente a majestade de Deus. Nada pode estar no coração se não estiver primeiro na mente. Quando estudamos os textos bíblicos de homens como Moisés, Isaías, Paulo, e tantos outros da história cristã, percebemos que eles falam do que conheciam para depois permitir que as emoções sejam colocadas a serviço da adoração. R.C. Sproul, teólogo reformado diz: "As emoções podem ser acesas pelo mais leve conhecimento da majestade de Cristo. Mas para que a fagulha aumente até se tornar fogo devorador e duradouro, nosso conhecimento a respeito dele deve aumentar"

A história da igreja foi marcada por grandes pensadores teológicos que se tornaram fonte de informação e fundamentação filosófica e teológica de muitos pensadores atuais. Homens como Agostinho, Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon, Agostinho, Tomas Kempis, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, fazem parte de um grupo seleto de homens que andavam com Deus e usaram o seu intelecto para dar uma correta expressão da fé cristã. Eles entendiam que a fé cristã era lógica e coerente. Seus corações eram estimulados por algo que conheciam. Atualmente precisamos de homens ou mulheres que tragam para o seu povo uma teologia coerente, lógica e acima de tudo bíblica - e ela existe - só nos resta que estes tenham os seus espaços. Quando muitos cristãos da igreja evangélica brasileira proclamam uma "nova reforma" hoje, despertando o ministério do apostolado, é necessário que estes pregadores da "nova reforma" lembrem-se que também existe o ministério do mestre e outros ministérios, pois só assim esta "nova reforma" será completa. Ao Senhor da Glória e Eternamente Perfeito Seja Toda a Glória.

Assim eu escrevi - jotaeme

A FAMILIA CRISTÃ “ESQUIZOFRENIZADA”

    No ano em que instituição do divórcio cumpria 30 anos no Brasil (2008), o IBGE divulgou as estatísticas relacionadas ao divórcio. A atual taxa de divórcio no Brasil é a maior desde 1995 com aumento de 200%. Isso significa que, em média, a cada quatro casamentos, um é desfeito. Sem dúvidas, uma primeira e simples conclusão é que a sociedade mudou o seu pensamento e comportamento diante da instituição familiar.    

    Refletir e falar sobre família não é uma questão simples, mas não são as dificuldades que devem impedir a reflexão sobre o tema. O desafio diário do cristão evangélico de viver determinados padrões familiares tem sido uma constante. Dominicalmente os freqüentadores e membros das igrejas têm sido desafiados com discursos que os convocam a viver determinados padrões familiares, com o objetivo de sustentar e manter o casamento e o vínculo familiar estabelecido. Cônjuges e filhos são constantemente expostos a palestras, pregações e estudos com o intuito de manterem e vivenciarem uma família cristã, com práticas tidas como cristãs.

    No entanto, nos perguntamos: ainda é válido, em pleno século XXI, o modelo familiar que nos foi ensinado nos séculos XIX e XX? Existe a necessidade de se pensar em um modelo de família cristã para a pósmodernidade? Manter os valores cristãos para a família significa manter práxis ou costumes do milênio passado? Eis o desafio.

    Em primeiro lugar, faz-se necessário esclarecer que a família deixou de ser um núcleo social para se constituir num núcleo funcional. Na atualidade, a solidariedade, que é um valor que precisa ser restaurado, começa a ser substituída pelas funções que os membros da família exercem. O envolvimento familiar é responder às questões que levantamos, e mais importante, à pergunta: quem eu sou nesta família? Trata-se de uma questão de identidade e filosofia familiar e o cristianismo, por ter um discurso solidário gerado numa concepção comunitária que é exposta na imagem de corpo de Cristo, provoca e traz uma crise no meio familiar, uma vez que as pessoas são solidárias na comunidade cristã, porém não o conseguem ser na família. Vive-se, portanto, a crise da fé x práxis. A ortodoxia x ortopraxia.

    Em segundo lugar, o discurso evangélico esquece-se da tríplice vivência mundana do cristão. Não defendo a idéia de "conformar-se com o mundo", mas não se pode esquecer que o cristão "está no mundo" e que a oração de Jesus foi que fôssemos "livres do mal". Particularmente, vejo aqui o cerne da "crise familiar", a falta de leitura daquilo que chamo de "sinais dos tempos".

    O cristão vive envolvido num "tríplice mundo": "mundo-família", "mundo- igreja", e "mundo-sociedade". Uma simples observação da distribuição do tempo, dos estímulos e da participação destes cristãos mostrará quais influências, formação e informação esta família receberá. Esta leitura básica da mundaneidade deverá conduzir o tipo de discurso ligado à família que as igrejas devem proporcionar aos seus ouvintes. Como dissemos não se trata de nos conformarmos com o mundo, mas de sermos sábios e prudentes para "transformarmos o mundo".

    É necessário transformar famílias para viverem no mundo e não para viverem somente para si. Proponho aqui que a família deve ser uma comunidade da vida, ou seja, uma verdadeira facilitadora da vida em comunidade, sem se conformar com a filosofia da vida mundana.

    Os formadores de opinião e aqueles que se dedicam a organizar e produzir materiais para a família cristã devem, impreterivelmente, fazer a leitura dos "sinais" de nosso tempo. Dessa forma, teremos um discurso libertador e não gerador de uma opressão religiosa. A mensagem que deve ser comunicada deve não somente facilitar a compreensão da vida cristã em família, mas ser um facilitador do viver cristão. Um discurso concreto e não idealista. Existencial e não asceta. Da vida e não de morte. Da graça e não da lei. Do evangelho e não da tradição ou religiosidade. Da diversidade familiar e não de uma padronização serial.

.     Não podemos nos esquecer que a vida cristã é integral, mas em termos de tempo, crescimento, aprendizado e outros, somos limitados. Atualmente, muitos lares são verdadeiros dormitórios. É difícil pedir a uma família cristã que se junte diariamente para exercitarem a oração, quando esta tem apenas os fins de semana para estarem juntos. É esta a realidade "mundana" a qual nos referimos e que deve ser entendida e levada em consideração por aqueles que produzem treinamentos, cursos, palestras para as nossas famílias cristãs.

    Outra questão que deve ser indicada é a rapidez com que as mudanças acontecem em nossos dias. Não há como não mudar. As pessoas mudam de grupos sociais, de amigos, de igrejas, de bairros... Não se estabelecem vínculos profundos e duradouros. Portanto, a mudanças podem acontecer e devem acompanhar o ritmo da sociedade. O ensino para a família atual deve ser rápido, proativo, interessante. Os valores permanecem, mas a forma deixa de ser cristalizada, sem perder o status de cristão. Um exemplo trivial é a leitura bíblica. Hoje muitos não lêem a Bíblia diariamente, mas a ouvem, diariamente e por muito tempo. Estes cristãos "posmodernos" usam o seu tempo e o som de seus carros ou seus aparelhos de mp3 para "ouvirem" as Escrituras Sagradas, enquanto dirigem ou estão parados nos engarrafamentos das grandes cidades. Serão eles menos cristãos do que aqueles que antes, dispunham de mais tempo para lerem a palavra?

    A esquizofrenia da família cristã se dá quando os membros das igrejas são retirados do seu habitat e são conduzidos a vivenciarem a fé cristã por modelos produzidos por matrizes religiosas forâneas e em série. Os cristãos não podem ser retirados do contato com a sua realidade da vida e especificamente dos tumultos vivenciais. Quando existir uma correta leitura dos "sinais dos tempos", existirão mais cristãos concretos e menos cristãos em série. Existirão cristãos ligados com a sua realidade. Estes cristãos, que são vistos como artefatos eletrônicos nos quais basta que se ajuste um determinado parafuso, ou transistor para que tudo volte a ser como dantes devem ser libertos. O tecnicismo da vida cristã, que nos ensina que se fizermos determinadas ações, usarmos determinadas fórmulas, teremos os resultados almejados, deve ser extinguido e substituído por algo de mais "mundano, mais concreto, mais real.Feito para o homem atual e para seus dilemas atuais.

    A teologia da vida cristã é holística: Deus, Criação e Eu. Ela é concreta e multifacetada. Cada cristão vive suas experiências de forma subjetiva e diferenciada. A riqueza da palavra de Deus é que ela é viva. O significado disto é: a palavra e formação estão em constante desenvolvimento na vida das pessoas. Não erramos se dizemos que a palavra de Deus por ser viva é "funcional". Isto significa que a eficácia também está de acordo com a forma que cada cristão desenvolveu, com sua história de vida. Isso inclui experiências de vida, família, formação, identidade pessoal única, experiência religiosa, estilo pessoal, dons, etc. E isso não gera cristãos em série.

Assim escrevi - jotaeme